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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Todo Mundo Não




Não leio todo mundo
nem procuro ser gentil
no que tange à arte dos outros.

Os pedaços que de mim saem
tão solitários e escancarados
necessitados, quase sufocados
por arrancar alguma vida
do que teima em se recolher...
tão ingenuamente expostos
a si mesmos
tentando ter cara de arte
e arrastando todas as pontas
e extremidades
não lixadas pelo mundo...
Esses pedaços são muito hostis.

Assim tornam-se expressão
denunciante
do que por dentro arde
corrói
desfruta
e atiram suas palavras nos outros
para sobreviver...

Minhas partes pouco amenas
como águias esfomeadas vem à Terra
roubam olhares
saltam buracos em cercas
invadem reuniões
e ainda bem;  me resgatam
como rede no oceano que pesca tudo
e volta a se despejar no mar.

E assim
sobrevivo.
E quando gosto
é porque alguém (provavelmente sombrio)
me surpreendeu como um vinho
me desatou sem tesouras
me desnudou
sem tocar.

E como em tantos e tantas
a minha parte mais viva;
então
resolveu
retrucar...

cristina

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Caminhos

Há caminhos banais e toscos como muros.
Não muros grafitados
mas limpos,
lisos como azulejos
sem diferenciais.

Por não querê-los
escalo viadutos nas cidades cheias
nas luas perdidas
nas partes de mim.
Atropelo pombas
em quintais vazios
e volto às ruas
com o peito chiando
em dor
por não ter nada.

Por não conseguir assimilar
o código do outro como solicitado
para dar forma à paixão
e domesticá-la
e guardá-la em vidros
para hibernação.

Dói a dor
de não ser explicito
não por não ser
mas por ter que fingir
tantas e tantas vezes
para poder cruzar
entre os robôs que mordem.

Por isso é que às vezes
saio como tantos
e os encontro soltos
e há encontros cantos
fáceis e dormidos
feito luas novas...

É por isso mesmo
-sei que sou mais uma-
e é que somos tantos
mas tão sós
e mudos...

cristina

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Por dentro e ambíguo

Fabrico algumas queixas dentro deste cilindro.

O grande problema às vezes
é não saber para onde dirigi-las
porque um cilindro é um corpo
e o resto
sorte evolutiva.

Inteligência, memória,
pensamento;
cognitivo,
percepção
acolhimento:
um refúgio
dos coitados sentimentos
sem retórica -a não ser-
pelas feridas que os sustentam.

Ou as rápidas,
felizes investidas
acolhidas
perceptivas
cognitivas
dos refúgios
dos enormes sentimentos
com eufóricas retóricas
de alento :
esses loucos atrevidos
sentimentos
que te invadem e te engolem
com a vida.