quinta-feira, 27 de maio de 2010
Nádegas
e passamos
algo pesca tuas nádegas
e faz com elas balsas
e arrecada beiras de cama
algo
alguém
alguns
algas de mar como folhas
carrego nas minhas entranhas
e sei desta dor que barganha
com sede
a minha existência.
Dou-lhe talvez a insistência
os anos
a casa e as mágoas.
Para andar
preciso delas
e andar o mundo
é a única garantia
de estar viva.
(se ela não anda, ela
vê. Se não, ela toca.
Se navega, nádegas.
E senão:
boca).
Nádegas que me carregam
por favor
fiquem e fiquem
e andem comigo
e sintam
e corram!
Não
por fotos
álbuns
passado.
Uns colchões surrados, usados
e do teu amor
mais agarrado.
Entenderia
porque já joguei os meus, outras vezes,
e porque o tempo não diz
o que é válido.
Diz mesmo o que é amar;
esse incômodo no peito
que não pode ser contado.
No lado de dentro do abdome
como um recado mal guardado.
Nada avaliado, duro de roer
que não sai
não se conforma
com poucos pecados.
Então : entenderia.
Mas não consigo entender que você jogue
nossos poucos momentos
tão alucinados.
Porque amor tem um lado
ancestral
e complicado:
amor volta
se mal exterminado.
Amor,
é danado.
Saturno
Saturno era um negro gigante.
Cantava com voz de caverna
e eu
e meu irmão
interrompiamos
a aula de canto do meu avô
com as nossas risadas.
O mundo era enorme
desconhecido em tudo
e as esquinas tinham segredos
e mágicas
e aventuras.
Meu avô nos ensinou coisas estranhas.
Clave de sol, música e acordes.
O piano ocupava a sala toda
onde ele recebia os alunos.
Nós faziamos arte
-de gente grande-
no jardim
e morriamos de rir dos astronautas
que brincavam conosco.
Visitavam nosso barco
cowboys bonzinhos
e detetives
e dançarinas.
Conseguiamos fazer as épocas
sem gastar com figurinos
e percebiamos os anos
os perfumes
as tocaias.
Todos os deleites de nossas histórias.
Criávamos os tempos com acertados detalhes
e um dia disseram-nos que os sábados
brincados
acabaram.
Soldados esquisitos armaram-se nas ruas
e as noites eram curtas
e não podia mais
haver calçada
com luas
campainha do vizinho
e primos correndo
conosco.
O país (como outros)
ficou em sombra
e muitos amigos da casa que via
nunca mais vi.
Eu não entendia direito
pessoas falando em segredo
e livros queimando no quintal.
Saturno não veio mais
cantar.
Hoje sei
de veias abertas,
de viradas de mesa
e coisa
e tal.
E que o barco dos piratas do jardim
existiu.
Assim como o foguete que partia
com cheiro de bolo
do fundo do quintal.
Sim.
Existiu sim.
Passagem para a Praça
Uma poça brilhante como entrada
para o centro da Terra
e muitos olhares difusos
com música brega
na praça de areia.
Ela em sapatos cor de rosa com salto esguio
e ele, chapéu de aba
com ares de gigolô a pegava pela cintura.
De repente um lagarto zig- zagueante atravessou
perto da vala
e a sua intimidade com a rua
velha
e delirante
assustaram a menina.
Por algo que não sabemos
e que nada tem a ver com o lagarto
a briga começou entre os dois.
O homem afastou-se
arrogante.
Poderoso.
E ela, tirando um dos sapatos
correu até ele,
tirou o outro
e os jogou pelas costas do homem.
Correu então em sentido contrário,
sob o olhar espantado
e paralisado
do velho,
correu descalça
sabe-se lá para onde.
A praça toda havia parado.
Desde então, o homem senta-se à noite
todas as noites
no mesmo banco
sob a lua que brilha
agora
gigante... às vezes chora baixinho.
E nunca mais ele a viu.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Um eu
Um eu
Meu ser parecido com um ponto
viaja entre apetrechos
deste mundo
passando de olho em olho
pessoas
pedaços
calçadas
Entre barracas de mil objetos
vendas proibidas
muito baratas
cheiros sem nome
caras sem dono,
postes pintados de cartazes
ônibus diesel com ruídos
e velhas pessoas
meio acuadas.
E tudo que tenho
dentro do ponto :
passa e não fica.
Sou quase nada...
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Lugar
Não tenho nada
a não ser o tempo.
Tenho?
Escasso e vestido de louco
rouba-me tudo
ou quase tudo...
Ele mata as horas
e tu demoras.
Eu sou alheia
à Terra inteira
e com gosto estranho
meço o que sobra
sigo o que falta
não digo nada:
talvez montanhas
pedras e verdes.
É Terra alheia
esta que gira.
Queria saber aonde fica
aquele lugar que habitas
quando te escondes dos outros
feito lobo.
Queria
nesta Terra esquisita
enxergar tua guarida.
Bom Senso
essa parte de mim que extrapola.
Sim, não deixaria
que pulasse da primeira ponte pela qual se apaixona
mesmo sendo a mais alta
a garantir a beleza da distância...
Chamaria suas artérias ao bom senso
ou ao mau sentido, já que depende do ponto de vista
mas enfim, chamaria:
para que visse a realidade
desse corda aos relógios
com um amor rotineiro
que dá beijo de boa noite
e quando acorda, diz bom dia...
(é : se pudesse, impediria.
Mas é quase certo:
não quereria...)
Carta...
que es para él.
Casi se me cierra la garganta.
Alergia, debe ser, a entender.
Porque solo no se entiende cuando duele una cosa, si no se quiere.
Entender es como mirar: si uno ve, uno ve. Si no, no se mira. Pero las cosas no mienten.
Las palabras pueden doler como agujas, y los hechos se disfrazan muchas veces, porque colocándose la fantasia de las palabras, no te dejan ver: te ayudan a imaginar.
Entonces uno se va acostumbrando.
Se acostumbra uno a que tal vez no haya amor, a que tal vez “lo nuestro se este acabando”, a que tal vez “no sea bien asi”, a que tal vez “yo esté apasionada pero él no...”
Y uno se acostumbra tanto, que pasa a ver lo que no es.
Pasa a ver que no es posible “que él este y quien sabe yo...”, “que sea exactamente eso, pero no me parezca”, que “lo nuestro no se este acabando- principalmente porque ni ha comenzado- y uno crea que ya se acabó”.
Es como un laberinto de espejos, donde si uno corre, se enloquece, y si se sienta a esperar,
se aburre con uno mismo.
Por eso te pido:
no me lo digas todo.
No me acostumbres a nada.
No me hagas todo lo posible,
ni lo imposible todo,
ni me digas nada sobre como anda lo nuestro.
Porque cuando no pensamos en lo que sentimos
ni lo discutimos
debe ser porque aún
lo sentimos...
Y si me lo dices,
dímelo sin palabras.
Dores
Porque abrem a boca e te engolem
e porque vistas de frente
parecem doer por questões que não existem
ou caminhos não caminhados
ou amados nunca amantes.
Algumas dores são relevantes
não porque doam
mas porque dizem segredos de nós mesmos
que não sabíamos...
domingo, 23 de maio de 2010
Você
vem
e se esconde no meu peito
assume nome
tem uns olhos de ônix
que de longe
me consomem
O ritmo espacial que me comove
não tem ponteiros
Tem algum segredo estranho
que me come
se ainda não por pele e partes
é por dentro
porque homem...